
MATÉRIA: Visita ao CCBB, o esperado retorno
Durante as oficinas da UAPI (Universidade Aberta Para a Pessoa Idosa), uma pergunta insistia em aparecer na primeira oportunidade: “mas e o presencial, quando volta?”, clamavam nossos estudantes idosos. “Visitar museu tá na moda, né?” indagou uma estudante há pouco tempo atrás. Pronto, com a faca e o queijo na mão, a equipe da UAPI se prontificou a realizar uma visita em um dos grandes pontos turísticos de Belo Horizonte, o Centro Cultural Banco do Brasil. Agendada para uma sexta-feira no dia 4 de fevereiro, a ideia do encontro era atender às demandas destes estudantes, além de propiciar um evento cultural.
Após tantos meses enclausurados dentro de nossas casas devido a pandemia, aos poucos o mundo tenta redesenhar aquilo que conhecemos como “normal”. Aquela normalidade que nos foi subtraída durante tanto tempo precisava voltar. E como é bom estar de volta.
Para a estudante Antônia Augusta Ferreira, de 69 anos, as atividades on-line são boas porque existe a possibilidade de fazer mais cursos. “Mesmo que você às vezes não esteja naquele horário você tem a possibilidade de assistir depois”, ela sintetiza. Ainda assim, a volta do presencial era aguardada por ela. “A gente ri muito, faz muita amizade porque são todos idosos”, diz. Eliane Rodrigues, de 67 anos, acha que o principal é estar junto de todo mundo. Segundo ela: “no on-line a gente até conversa com as pessoas, mas não é como a gente gostaria de estar”.
Enquanto as últimas pessoas chegavam e se reuniam para começar a visita, o clima já contagiava cada centímetro quadrado do prédio imponente do CCBB. As pessoas ali reunidas no café formavam uma tribo particular que preenchia o espaço público belorizontino. Uma tribo não só porque todos ali faziam parte da terceira idade, mas porque todas compartilhavam a mesma leveza e empolgação. Com maioria feminina e alguns poucos homens, eram pessoas de diferentes etnias e diferentes histórias.
Depois da chegada dos estudantes restantes, a guia apareceu e os olhares atentos dos quase 40 idosos se voltaram para ouvir as cativantes histórias sobre o CCBB, que se confundem com a história de Belo Horizonte. Conversando com alguns idosos, pude descobrir que alguns deles nunca tinham ido a um museu. É o caso da estudante Maria Auxiliadora, de 69 anos. Ela trabalhou por 10 anos em uma clínica ortopédica próxima à Praça da Liberdade. Por lá sempre fazia o horário de almoço, mas nunca passou pela sua cabeça que poderia ser um museu. ”Eu achava que era coisa da prefeitura, do governo, sabe?” afirma a idosa.
Além da visita guiada, o grupo teve a oportunidade de conhecer a exposição que acontecia no andar de baixo do museu. Nesse momento, porém, era preciso que antes todos retirassem o ingresso para conseguir entrar nas três salas reservadas à exposição. A fila praticamente vazia da bilheteria deu lugar a uma aglomeração empolgada que no mesmo instante deu vida ao lugar. A presença de espírito de uma das estudantes no finalzinho da fila deu o tom do que aquele passeio representava para o grupo. “Essa fila aqui é prioridade viu, gente?” disse gargalhando.
A exposição em questão é do escultor belorizontino Francisco Nuk, intitulada “A forma não cumpre a função”. São vários móveis distorcidos e inusitados. Como o grupo se dispersou por conta da demora na retirada dos ingressos, não pude acompanhar muitos deles e nem captar suas reações acerca das obras. Mas deixo aqui a indignação de uma das nossas estudantes que após percorrer as três salas com certa rapidez, olhou para mim e perguntou: “é só isso?”. E era. Após quase 1h30 de interações e aprendizado, a visita chegava ao fim.
O que conquistou Sebastião Alves, de 75 anos, foi o ambiente diferente. Ele pôde conhecer lugares que até então não tinha tido contato. Ainda diz entusiasmado que pretende trazer as filhas. Interessante notar um ponto em comum com as pessoas que entrevistei. Além de relatarem o apreço pela visita, todas manifestaram a vontade de levar os filhos. Um gesto simples mas que demonstra o enorme carinho de querer experienciar o evento novamente com as pessoas que eles mais amam.
Semanas atrás eu estava preparando um roteiro de perguntas para um possível entrevistado idoso que fazia parte da UAPI. Mostrei para a coordenadora e ela chamou atenção para uma pergunta onde eu questionava como o idoso lidava com a ociosidade em seu tempo livre. Ela me disse que a pergunta não fazia muito sentido, considerando o quanto os idosos que integravam o projeto eram ativos.
Claro, eu ainda não os conhecia de perto o suficiente. Mas agora entendo perfeitamente a observação da minha coordenadora. O grupo que eu conheci durante a visita não se deixa afetar pela brevidade da vida. Nenhum se rendeu à chegada da terceira idade. O caminho que eles estão percorrendo agora após uma vida recheada de experiências é tão valioso quanto era antes de se tornarem idosos perante a lei. Eles se impõe sobre o tempo e continuam se movimentando tal qual um jovem adulto faria. E quem disse que eles ainda não são jovens adultos? Na verdade, eles são todas as fases da vida concomitantemente. Cada vivência referente a diferentes épocas continuam preenchendo corpo e alma de cada um.
A exposição “A forma não cumpre a função” acontece até o dia 13 de fevereiro. A entrada é franca e para conhecer as obras de perto basta retirar o ingresso pelo site do CCBB, mediante a disponibilidade. Para agendar a visita guiada, é preciso ligar diretamente para o CCBB, no número 34319440.
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